quarta-feira, 20 de novembro de 2013

João César das Neves a minha indignação


Não tenho por hábito fazer qualquer tipo de comentário que possa envolver desígnios políticos neste blog, mas sendo este um espaço onde se defende o que de melhor há no mundo – as pessoas – não posso deixar de comentar a sua entrevista.
Dr. César das Neves
Por acaso conhece alguns dos muitos reformados que vivem bem e á grande com as magras pensões que têm ?
Por acaso tem consciência da violência verbal que revestiram as  suas palavras para quem não pode, todos os meses, fazer face às suas despesas?
Tem a noção das despesas a que me refiro?  Cuidados médicos , medicamentos, alimentos, lembre-se que são necessidades básicas, tão imprescindíveis a todos nós e mais ainda a quem já ofereceu muitos anos à vida ao trabalho.
Será que conhece a pirâmide de Maslow  e a hierarquia das necessidades?
E a palavra humanidade estará assim tão distante do seu vocabulário?
Confesso que quando ouvi alguém referir-se à sua entrevista pensei que fossem os habituais boatos ou más interpretações que são, muitas vezes arquitectados pela oposição ao governo ou por uma faixa da comunicação social menos ética que existe no nosso país.
Discuti até um pouco sobre isto, porque tinha por si alguma consideração, e talvez por ser um economista carismático, católico, nunca achei possível que um qualquer ser humano no pleno uso das suas capacidades mentais e sociais pudesse alguma vez na vida proferir tão irreais e  inoportunas palavras.
Errei redondamente afinal o Senhor  não passa de alguém que desconhece totalmente a realidade de uma grande fatia dos cidadãos do seu país, talvez porque vive numa redoma de vidro, goza de algum prestigio que lhe bloqueia a capacidade de se colocar no lugar do próximo e avaliar cabalmente a sua situação social e financeira.
Experimente calçar os sapatos de um reformado, ou de um qualquer cidadão qualificado que aufira um magro salário de 485€ e avalie se o seu modo de pensar seria o mesmo.
Finalmente quando tive acesso à entrevista e nem quis acreditar naquilo que li.
É chocante.
Vergonhoso caro João César das Neves, vergonhoso um país que tem cidadãos com esta mentalidade e que são incapazes de sentir o global de uma sociedade que, mesmo com pouco, tudo tem dado para levantar o país. E o senhor o que já fez para levantar o seu país ao invés de vociferar à esquerda e à direita contra aqueles que honradamente têm contribuído com o seu esforço pessoal, para o desígnio nacional de atenuar os efeitos nefastos desta crise que mais do que nacional é europeia e mundial.
Conheço muita, e boa gente que trabalhou arduamente a vida inteira, em prol da economia do seu país, em fábricas, lojas, empresas, e que hoje apenas sobrevive e mal, muito mal.
“A maior parte dos pensionistas estão a fingir que são pobres”
E se experimentasse viver com uma pensão de pouco mais de 200€, e ter de pagar todas as despesas inerentes à sua sobrevivência, alimentação renda, medicamentos, actos médicos, luz, gás, telefone etc. será que iria pensar da mesma forma? ou será que ainda ia conseguir rechear uma conta poupança?
Será que estes são considerados os ricos do sistema?
E qual será a percentagem de pensões inferiores a 500€ (perto do ordenado mínimo nacional, que é dos mais baixos da Europa) , é verdade são um gigantesco valor de 85% do total de pensões pagas a nível nacional.
Já pensou em viver com 500€, algumas destas pessoas já viveram bem melhor, se calhar como o senhor, foram industriais empresários e de repente ficaram com uma pensão destas que cada vez se foi tornando mais magra.
E se passasse por situações de carência médica, fome pobreza, iria continuar a considerar que grande parte dos pensionistas fingem que são pobres?
Sabe hoje em dia, com os elevados índices de desemprego muitos dos pensionistas viram o seu quadro de despesas agravado, por terem de ajudar ao sustento dos seus filhos que muitas vezes têm família constituída, e é com a escassa ajuda dos seus pais, pensionistas que conseguem sobreviver e dar algum conforto e educação aos seus filhos.
Agora posso dizer-lhe com toda a exactidão que há agregados familiares inteiros a viver de pensões de sobrevivência umas de pouco mais de 200€ e outras de mais um pouco e outras de muito mais, mas a verdadeira dimensão do valor de uma pensão tem de ser avaliada, caso a caso, pois há por aí pensões de 2000€ a dar sustento a agregados familiares de oito a dez pessoas, sendo que duas delas poderão ser idosas e certamente com elevado gasto em despesas de saúde , um rendimento deste montante dá um valor “per capita” de pouco mais de 200€ brutos a acrescer o pagamento de despesas a duplicar em termos de rendas, água, luz, gás, transportes etc.
Estes não serão tão pobres como os que já referi mas não fingem também alguma pobreza financeira e moral, por isso largar frases para a comunicação social como o senhor o fez é de alguém que tem falta de skills morais para exercer a profissão de economista e gestor, porque acabou de atestar que desconhece, por completo, a dimensão da realidade nacional neste momento.
Mas também se refere e muito mal aqueles que estão no pleno da sua actividade profissional.
Até há pouco tempo corríamos atrás de um futuro que queríamos alcançar e hoje?
Onde está o almejado futuro?
Esvaiu-se no meio dos pensamentos de pessoas como o senhor, que por viverem numa redoma de vidro onde nada de mal lhes irá acontecer, esquecem-se daqueles que todos os dias contribuem para que a imagem de Portugal seja fortalecida a nível internacional, por intermédio do seu árduo e mal pago trabalho, e por via de todos os sacrifícios que lhes foram impostos, sim porque é a esses que o Senhor se refere, não é aos que, também se esforçam mas têm uma vida mais confortável, ou até mesmo aqueles que nada fazem e vivem “com o corpinho virado para o sol”.
Escudado no seu prestigio de conceituado economista, a quem tudo é permitido vai aqui e ali lançando farpas a quem menos merece, a quem tem plena consciência das contingências da actualidade e mesmo não sendo economista conhece a realidade nacional, que muitas vezes não difere da sua realidade pessoal, mas também conhece as outras realidades que existem neste país, mais douradas, como a sua, e ainda assim não desfere ataques de forma agressiva e desmoralizante.
“Subir o salário mínimo é estragar a vida aos Pobres!”
E que tal descer o seu não será estragar a vida dos ricos?
“obrigar os empregadores a pagar um salário maior”
Por acaso não se terá enganado, não quereria dizer obrigar os empregadores a pagar o justo valor do trabalho assalariado?
O que quis dizer nas palavras violentas que vociferou  foi “estraga a vida aos desempregados não qualificados” se não são qualificados, esforcem-se por se adquirirem aptidões mas esse não é o motivo para se barrar o direito de, qualquer trabalhador que lutou por adquiri mais competências profissionais e pessoais,  ser justamente ressarcido da sua prestação de trabalho.
 “Ainda não se pediram sacrifícios aos Portugueses!”
Ora bem está claro e evidente que o Dr. Cesar das Neves ainda não sentiu os efeitos nefastos do sacrifício que tem sido imposto as todos os portugueses, vive protegido na sua redoma de vidro onde nada se passa e quando algo acontece aparece sempre uma avença para compensar, esta é que é a sua realidade.
E que tal avaliar concreta e realmente os números da natalidade?
Estamos a criar a cada dia que passa um fosso maior nos nossos futuros contribuintes, a população está cada vez mais envelhecida, o senhor ainda tem o desplante de dizer que é por razões culturais?
Será que o peso maior na decisão de ter ou não filhos não se funda em razões económicas?
Quem é que vai por no mundo um filho sem ter meios para o sustentar, para o vestir, para lhe dar os cuidados de saúde imprescindíveis e o nível de educação razoável?
Por acaso já se deu conta de quantos milhares já cruzaram a fronteira e deixaram Portugal para fazerem face ao seu sustento?
Já avaliou a quantidade enorme de quadros fantásticos, formados à custa dos contribuintes que vão para o estrangeiro oferecer o seu talento no desenvolvimento de outras economias, deixando forçosamente o progresso do seu “país do coração” trancado ao seu talento, á sua potencialidade de o fazer crescer?
O senhor ainda tem a coragem de dizer que os fluxos migratórios são uma “válvula de escape” para o nosso país. A cada dia que passa, emigram inúmeras pessoas com massa crítica elevada que poderiam desenvolver a nossa débil economia, é claro são bem aproveitados por essa Europa fora.
Por acaso já percebeu o fenómeno cada vez mais em crescendo das empresas que vão à falência e contribuem de forma indelével para o aumento astronómico dos números do desemprego? Sim aqueles que vai baixando estatisticamente à custa da emigração.
Já se terá apercebido da fraco crescimento de alguns sectores da economia, dou-lhe como mero exemplo o caso da construção civil, que se encontra nas “ruas da amargura” completamente blindado ao mercado, com a banca a financiar mal a compra de habitação, e por culpa de quê? Para além de outras razões, os inúmeros esforços que foram exigidos aos portugueses e que os levaram a não investir no imobiliário e até inclusivamente a terem de negociar com os bancos dações em cumprimento, e perderem as suas casas.
Já se terá debruçado sobre o porquê do aumento irracional dos incumprimentos nos pagamentos dos empréstimos?
Por acaso já se deu conta que o Tribunal Constitucional tem evitado grande parte das tentativas de incumprimento da lei, balizando muitas das injustiças que tem sido cometidas contra os trabalhadores, é certo que todos temos de fazer esforços mas não só os que menos têm, porque em muitos países da Europa, a realidade é a mesma que em Portugal mas o grau de exigência não tem sido tão pesado.
Reduzir de forma tão abrupta os rendimentos, cria o inevitável retrocesso da economia.
Quanto ao funcionalismo público há tão bons trabalhadores no público como no privado, mas também existem os piores como no privado, esta é a realidade, sem rótulos, por isso os funcionários públicos não deveria ser citados como o mal de todas as coisas .
Ok á percebi estava a precisar de protagonismo, sabe o que conseguiu com esta entrevista ?
Que muitas pessoas o desacreditassem como economista e como católico.
A esta sua entrevista eu chamo de fuzilamento social da esperança.
Isto é o que o senhor fez publicamente, como cidadã contribuinte e remediada não o posso admitir, há muita gente a viver muito mal e dessa triste realidade os Portugueses que têm consciência sabem e muito bem, o acréscimo que tem tido a sopa dos pobres, o número de pessoas a viverem sem abrigo, a diminuição astronómica que teve o recurso aos cuidados de saúde,  pelo que que não me posso permitir ficar calada quando pessoas como o senhor, ataquem quem não merece, escudando-se  na sua capa de católico,  grande economista,  o  doutor dos punhos de renda bordados a  ouro e platina.

A sua entrevista na minha opinião é uma barbaridade.

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