segunda-feira, 19 de novembro de 2007

RETENÇÃO E FUGA



Em Portugal existe um défice de pessoas com talento. Este é o factor principal que leva a um crescimento reduzido da nossa economia.

A imigração de portugueses para o estrangeiro para complementação de estudos é elevada, a frequência de pós-graduações, mestrados, doutoramentos ou a participação em projectos de investigação levam a que muitas vezes o investimento do Estado e outras entidades, em bolsas de valorização não reflicta o retorno esperado.

Muitos dos que acabam as suas licenciaturas em Portugal (+/- 20%) e os que têm a benesse da atribuição de bolsa de estudos ou investigação no estrangeiro, não retornam a Portugal por falta de vontade, por falta de projectos para dar continuidade ao seu progresso profissional, sendo que todos se mostram muito apreensivos em relação do futuro.

È uma questão de “cultura”, muitas vezes as pessoas que adquirem determinada qualidade de aptidões e competências são olhadas com desconfiança.

O problema subsiste há muito tempo, prende-se com o facto de em muitas empresas privadas, os lugares que exigem maior tecnicidade são ocupados por pessoas, “especialmente escolhidas para o efeito”, que muitas vezes não reflectem o resultado necessariamente obrigatório.

Por outro lado, quando olhamos ao sector público do Estado, verificamos que a situação se espelha da mesma forma. Os lugares que exigem maior apetência, mais conhecimentos técnicos são atribuídos ao afilhado A ou B consoante o partido que detém o poder de governação nacional, ou por escolha específica do presidente de Câmara ou de Junta ou o que for, ou seja nem sequer passam por um qualquer processo de avaliação curricular de competências profissionais e pessoais, e selecção.

O apadrinhamento de lugares sejam eles no sector público ou no sector privado detêm o crescimento do país e esta é uma situação que não se irá resolver num futuro próximo porque é uma questão “cultural”.

Há, efectivamente, determinados lugares que deveriam ser ocupados com pessoas que para além de boas competências curriculares, tivessem também competências profissionais e pessoais adequadas, porque nem sempre quem tem boas aptidões académicas é a melhor escolha para determinado lugar.

Uma avaliação muito objectiva do trajecto do candidato, com análise criteriosa dos projectos em que tenha participado e do valor que o seu contributo/desempenho lhes tenha acrescentado seria o verdadeiro alicerce decisivo de todo o processo de gestão e selecção.

O Estado deveria dar o exemplo e exigir as características supra citadas a quem preenche determinados lugares, independentemente do factor de transferência de serviço ou de antiguidade, já para não falar do factor de “cunha”.

Apesar da recente legislação sobre o Estatuto do Gestor Público definir que

«Os gestores públicos são escolhidos de entre pessoas com comprovadas idoneidade, capacidade e experiência de gestão, bem como sentido de interesse público»
Será, mesmo que alguma coisa vai mudar???

Duvido muito, como já referi, é uma questão “cultural”.

Muitos candidatos aparecem no bico da cegonha e nascem nas empresas, públicas ou privadas, como se fossem excelentes opções, muitas vezes superam os quadros mais habilitados das empresas, pese embora sejam de qualidade inferior, o que vai descredibilizando sistematicamente o sistema público e a confiança no sistema privado, originando desmotivação e imigração de talentos.

Neste sentido, ficam completamente por terra todos os gritos pela igualdade de oportunidades, da ética, do reconhecimento de aptidões profissionais e comportamentais.

Há factores “culturais” que têm de ser abolidos, com vista à criação de vantagens competitivas que levem à retenção e fixação de talentos, a bem do crescimento nacional.

O acompanhamento do passo dos outros países da União Europeia é para Portugal um factor de imprescindível necessidade.
Os outros países vão crescendo muitas vezes alimentados pela vitamina humana nacional, que Portugal está a recusar por falta de princípios éticos e humanos, e por adornar cada vez mais o apadrinhamento e o capital humano oriundo do bico da cegonha.

Não podemos protelar o futuro nacional e alimentar este nefasto “factor cultural”.

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