terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

ASSÉDIO MORAL - RELATOS REAIS - 1


"Sempre fui boa profissional.
Orgulho-me de ter trazido cartas de recomendação de todos os sítios por onde passei, com reconhecimento da minha responsabilidade, empenho, dinamismo e pela excelente capacidade de integração nas equipas com as quais trabalhei.
Quando fui seleccionada para um grande grupo multinacional altamente prestigiado, tinha a certeza de que era a profissional certa para aquele desafio.
Estava decidida a dar tudo por tudo para mostrar as minhas competências e transformar o contrato de trabalho temporário com que entrei, em algo mais estável.
No entanto, a minha passagem por aquela empresa contrariou todas as minhas expectativas logo desde o primeiro dia.
Integrei uma equipa pequena, com algumas técnicas séniores, e uma directora - todas absolutamente intragáveis.
Posso dizer que não tive acolhimento ou integração - cheguei e comecei a trabalhar. Iam-me delegando tarefas, sempre com muito pouca preocupação em explicar o que quer que fosse. Quando procurava perguntar ou pedir ajuda, recebia respostas tortas, vagas, ou mesmo resposta nenhuma. De início estava optimista, e fiz os esforços possíveis por me adaptar às tarefas mesmo assim.
Contudo, quando alguns inevitáveis pequenos erros surgiam, era repreendida, numa severidade totalmente desproporcional à gravidade do erro cometido.
A minha chefe - a directora do Departamento - nunca emitiu um parecer justo e objectivo sobre o meu desempenho: limitava-se a reproduzir aquilo que as minhas colegas lhe diziam sobre mim. Com frequência, as minhas colegas cometiam erros no seu trabalho e acusavam-me a mim. Quando eu era confrontada pela minha chefe e me tentava defender, ela simplesmente cortava-me a palavra: "Estás aqui para ser repreendida e não para argumentares".
O meu dia-a-dia naquele departamento veio-se a revelar um verdadeiro pesadelo: todos os dias era repreendida e humilhada pelo que quer que fosse; muitas vezes à frente de outras pessoas. Quando me limitava a executar as tarefas que me eram pedidas, era acusada de ser pouco proactiva; se procurasse ser proactiva era-me dito que não estava ali para fazer mais do que o que me era pedido.
Se perguntasse como deveria fazer uma tarefa, admoestavam-me para que procurasse descobri-lo sozinha; se fizesse sem perguntar era chamada de irresponsável.
Com frequência, delegavam-me tarefas complexas a minutos da hora de saída, e diziam-me que deveriam estar prontas na manhã do dia seguinte.
Nunca me foi paga um única hora extra.
Quando procurava participar numa conversa mais informal que surgia a meio do expediente, mandavam-me voltar a trabalhar. Quando tinha a iniciativa de iniciar qualquer conversa para desanuviar um dia mais pesado, também. E, simultaneamente, era acusada de ser distante e não participar das interacções da equipa...
Comecei a desejar constantemente os fins-de-semana.
Ao Sábado abstraía-me de tudo o que era a minha realidade profissional; ao Domingo à noite chorava por ter de regressar no dia seguinte. À medida que os meses foram passando, a minha condição psicológica foi-se agravando: vivia para os fins-de-semana, mas já não os aproveitava - ao Domingo de manhã já chorava antecipando a semana que estaria para começar.
Comecei a ter insónias, inicialmente uma vez por outra; mais tarde, todas as noites. Passei a depender de comprimidos para dormir. Num dia de maior desespero, cheguei a implorar ao meu marido que me partisse qualquer coisa, para que eu fosse para o hospital e não tivesse de ir trabalhar no dia seguinte...
Por fim, numa consulta com a médica de família, cheguei à conclusão de que não poderia continuar a fazer tudo aquilo a mim mesma.
A empresa não me merecia, e eu não merecia o mal que estava a fazer à minha saúde. Apesar da grande crise que o país atravessa, decidi demitir-me.
Não foi uma decisão fácil, mas não me arrependo. Hoje estou desempregada, mas sinto que um peso me foi tirado de cima, e consigo dormir todas as noites sem ansiolíticos.
Contudo, infelizmente, esta experiência deixou sequelas - pelo caminho, sinto que perdi parte da minha auto-estima e confiança. Hoje em dia, quando vou a uma entrevista, sinto-me muito insegura : "Será que estou à altura do desafio?", "E seu eu falhar?", "Serei realmente competente?".
Por outro lado, ainda não consegui encontrar a melhor forma de explicar em entrevista o motivo da minha demissão: como posso fazê-lo sem denegrir a imagem da empresa onde trabalhei (o que fica extremamente mal ao candidato), e sem que fiquem reticentes quanto à minha competência, ou à minha capacidade de adaptação?
Saudações cordiais para todos e uma particular palavra de compreensão para aqueles que são vítimas deste fenómeno devastador."

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